- Miguel Duque Camacho
Rótulos que valem zero
Atualizado: 18 de Jun de 2020
Infelizmente a sociedade já sucumbiu à política de rótulos. E muitos já nem conseguem entender que eles próprios são os limitadores de si mesmos.

Vivemos numa sociedade atual em que o marketing tornou-se a principal ferramenta para garantir venda de produtos e para o crescimento das empresas.
Um rótulo bem concebido num determinado produto, pode levar um consumidor final a optar pela compra do produto com melhor visual, ao invés do produto com mais qualidade.
As pessoas são pré-rotuladas pelos comportamentos, atitudes, aparência, escolaridade e até por currículos profissionais, quando todos nós sabemos que há sempre uma ponta de exagero e mentira na maior parte deles.
A mim não me preocupam as vendas nem o marketing exaustivo que as empresas lançam no mercado publicitário, mas preocupa-me o facto de estarmos vivendo tempos atuais que mais do que nunca, rotulamos as pessoas, como se de produtos se tratassem.
Hoje as pessoas são pré-rotuladas pelos comportamentos, atitudes, aparência, escolaridade e até por currículos profissionais, quando todos nós sabemos que há sempre uma ponta de exagero e mentira na maior parte deles.
Infelizmente a sociedade sucumbiu à política de rótulos. E por essa razão, muitos já nem conseguem entender que eles próprios são os limitadores de si mesmos.
Rótulos na adolescência que se refletem na vida adulta
Dou o meu exemplo pessoal.
Na minha adolescência e inicio da minha juventude, também me deixei levar pelos rótulos que a sociedade me impingia.
Por ter perdido o meu pai aos 14 anos, passei a carregar o rótulo de “família carenciada”, pois a minha mãe era doméstica e trabalhava apenas umas horas.
Esse rótulo limitou a minha progressão estudantil e profissional, e aos 15 anos, as notas caíram a pique e desisti de lutar por uma carreira na área da saúde porque faltavam recursos, e por achar que uma carreira universitária era um rótulo apenas para famílias estruturadas e com poder económico.
E de quem foi a culpa?
Minha ou de quem me impingiu o rótulo de "família carenciada"?
O politicamente correto que se instalou nos nossos dias, incute-nos que a culpa é sempre dos outros, que se não conseguimos algo é por causa do sistema, da nossa raça, do status social ou das circunstâncias.
Porém aprendi na minha atual carreira profissional e espiritual que nós somos os únicos que podemos limitar os nossos sonhos.
Se Aquele que criou-nos tem coisas enormes para nós, que nem olho viu, nem ouvido ouviu nem desceu ao coração de nenhum homem, quem somos nós para nos acharmos no direito de desistir e sucumbir aos rótulos que a sociedade nos coloca?
Rótulos que mais me incomoda
"...fui dar sangue, e ao preencher a ficha tive que colocar as minhas habilitações literárias"
Um dos rótulos que mais me incomoda é o rótulo das habilitações literárias.
Um dia fui inscrever-me como dador de sangue, e ao preencher a ficha tive que colocar a minha escolaridade.
Eu, porque adoro o ser humano e deliciar-me com as suas reações, coloquei:
Escolaridade: 3º ano do 1º ciclo.
A secretária arregalou os olhos, como quem pergunta:
"Mas você tem esta profissão e só tem o 3º ano?"
Eu, me rindo, disse a ela com muito amor e brincando:
“Não quero que ninguém que só tem o 3º ano fique sem um dador compatível.”
Brinquei, mas infelizmente vivemos tempos em que alguém que "tem escola" é rotulado de uma maneira, e quem tem "menos escola" é rotulado de uma outra maneira.
Eu não entendo o porquê do rótulo da escolaridade na nossa sociedade!
Uma das coisas que penso sempre é que na Ilha onde nasci e vivo, conheci mulheres que criaram 10/15 filhos e nem escreverem o seu nome sabiam; no entanto não há ninguém com escolaridade nenhuma que possa ensinar essas pessoas de como amar e criar 15 crianças da mesma maneira.
Conheci homens que não tinham mais que o 4º ano, e que abriram negócios e empresas de sucesso, que sustentavam esses mesmos 10/15 filhos e ainda davam emprego a muitos outros agregados familiares.
O rótulo das habilitações vale para se candidatar a trabalhos específicos, mas não devia valer para nos rotular como pessoas.
Jabez, um homem que venceu o rótulo do seu passado
O pior dos rótulos no entanto é o do passado.
Esse rótulo leva pessoas a carregarem fardos pesados, e que até hoje não conseguiram desenvencilhar-se.
A Bíblia, o livro mais infungível escrito, conta a história de um homem chamado Jabez no livro de I Crônicas 4:9-10.
O nome “Jabez” foi um rótulo que a sua mãe lhe pôs à nascença e que significa literalmente “Dores de parto”.
Com tanto nome bonito que aquela mãe podia dar aquela criança, decidiu rotulá-lo com este nome traumático, que a relembrava do seu sofrimento no parto!
Por ignorância ou maldade daquela mãe, aquele rótulo tornou-se um jugo pesado sobre a vida de Jabez.
Mas ao invés dele culpar a mãe, ou a Deus, ou às circunstâncias, ele decidiu derrubar esse rótulo e pedir a Deus que:
“Se me abençoares muitíssimo, e meus termos ampliares, e a tua mão for comigo, e fizeres que do mal não seja afligido…”
Ele entendeu que o rótulo e o jugo do passado que estava sobre ele não tinha que determinar o seu futuro.
Você que está lendo este artigo, deve de entender que os rótulos e os jugos de um passado infeliz e traumático ou de marginalidade não deve limitar quem você poderá vir a ser no futuro.
Hoje tome a mesma decisão de vencer o seu passado, se crê em Deus, faça a mesma oração que Jabez e trabalhe arduamente como ele o fez até alcançar tudo o que pretendia.
A história de Jabez termina com:
“E Deus lhe concedeu tudo o que lhe tinha pedido.”
A sua história também pode terminar da mesma forma.
Pois rótulos colocados no ser humano, valem zero.
Miguel Duque Camacho
#rotulos #zero #valem #jabez #passado #miguel #duque #camacho #blog #infungivel